8 de set. de 2018

Carta a um irmão machucado



Por José Carlos Fineis

Por acaso você perguntou
se o sangue que recebeu
era de um petista ou tucano?
Se o médico que o socorreu
era de esquerda ou de direita?
Se a enfermeira era lésbica?
Se o enfermeiro era gay?
Se os que consertaram você
eram pacifistas ou belicosos?
Se os que salvaram sua vida
eram comunas ou capitalistas?

Aprenda, meu irmão, uma coisa
que aprendi antes de você:
neste planeta minúsculo e belo
somos -- todos -- interdependentes
Respiramos o mesmo ar
pisamos no mesmo chão
aspiramos à mesma liberdade
Cada qual à sua maneira
sonhamos com dias melhores
Damos sangue para salvar vidas
e suor para o país funcionar 
Com o braço direito e o esquerdo
giramos as engrenagens do mundo

Porque nos permitiram viver
quando estávamos por um triz
o mínimo a fazer é nos amar
acima dos dogmas e das diferenças
E entender que sem os outros
por mais opostos que sejam
nossas vidas não são mais
do que uma flor em um copo sem água
Nós que fomos salvos por tantos
de quem sequer sabemos os nomes
temos o dever de nos curvar
a cada um, e louvar pela eternidade
a humanidade que existe no outro

Acima de ideologias e rancores
e diferentes formas de ver e pensar o mundo
cultivar o amor
como algo verdadeiramente sagrado
Essa é a grande lição
a ser aprendida.
-- Aprenda-a, como eu aprendi,
meu irmão machucado

(setembro de 2018)


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