Se nós fizemos, com uma câmera apenas e recursos limitadíssimos na época, tenho certeza de que a Globo, a Record, a Band, o SBT também conseguem. |
Por José Carlos Fineis
Eleição precisa de debate.
O eleitor tem o direito e a necessidade de saber o que os candidatos pensam sobre assuntos importantes de governo e sociedade.
Compreendo que um dos candidatos esteja limitado fisicamente para comparecer a um estúdio, ficar horas em pé, submeter-se ao estresse tremendo que uma confrontação direta com o adversário representa.
No entanto, com criatividade, tecnologia e boa vontade, pode-se fazer o debate de maneira diferente, respeitando-se as limitações físicas do candidato.
É claro que o resultado não será o mesmo, porque perde-se a oportunidade de réplica e tréplica. Mas o ótimo é inimigo do bom. E o bom é melhor do que nada.
Pode-se definir uma pauta comum de perguntas, e designar duas equipes de jornalistas e técnicos para comparecerem, no mesmo horário, aos locais em que os candidatos estiverem, a fim de gravar as perguntas e as respostas, observando-se critérios rígidos de tempo.
Tudo isso, claro, sob a fiscalização de observadores de ambos os partidos.
Obviamente, os candidatos terão apenas uma chance de responder, e as perguntas serão, posteriormente, publicadas na íntegra.
Com um pouco mais de sofisticação, pode-se introduzir um bloco de perguntas entre os candidatos, definindo-se, por exemplo, que as perguntas de um candidato ao outro sejam encaminhadas pelos assessores às equipes responsáveis por colher as respostas, apenas dez minutos antes do horário marcado para as entrevistas (evita-se assim qualquer risco de vazamento e preparação prévia de respostas por assessores).
Em 1996, quando este escriba, a Sandra Nascimento e o Werinton Kermes produzíamos o programa "Extra! A Revista de Sorocaba na TV", os então candidatos Renato Amary e José Antônio Caldini Crespo negavam-se a debater entre si.
Nós então reunimos um grupo de jornalistas da área cultural, que era nosso foco, pedimos emprestado o auditório da saudosa Oficina Grande Otelo, e convidamos os candidatos para duas rodadas de entrevistas no mesmo dia, em horários diferentes.
As regras eram simples e transparentes, e foram aceitas pelos candidatos.
As mesmas perguntas, feitas pelos mesmos jornalistas. Só uma chance de responder. Tempo limitado para as respostas.
Depois editamos, sem cortar nada: a pergunta, a resposta de um, a resposta de outro.
Produzimos dessa forma uma espécie de debate virtual, e com isso abrimos a oportunidade de cada candidato expor suas opiniões e propostas para os temas abordados.
Se nós fizemos, com uma câmera apenas e recursos limitadíssimos na época, tenho certeza de que a Globo, a Record, a Band, o SBT também conseguem.
Se precisarem de uma forcinha, podemos ajudar, pois já temos know-how no assunto.
O que não pode é simplesmente não haver debate.
O eleitor vai escolher baseado em quê? Em meia dúzia de palavras escritas por marqueteiros? Em memes e fake news espalhados pelas redes sociais? Em jingles bonitos e fotos dos candidatos abraçando criancinhas?
Ainda há tempo de acabar com esse impasse e proporcionar aos eleitores brasileiros a informação de que eles necessitam para votar conscientemente.
A fórmula está aí. Basta usá-la. Ninguém, como já se pôde constatar, está debilitado demais que não possa dar uma entrevista de duas horas no máximo.
O ótimo é inimigo do bom.
Se não dá pra fazer em estúdio, faça-se como as circunstâncias permitirem. Mas faça-se, porque eleição sem debate é eleição fake, fajuta, conduzida.
Debate já!
Debate agora!
Que os candidatos falem livremente o que e como pretendem fazer para entregar aos brasileiros aquilo que prometem.
(Foto: Pixabay)
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