Não pedi para receber o e-mail abaixo, portanto sinto-me à vontade para
respondê-lo.
Qualquer pessoa que conheça minimamente a Constituição sabe que essa
PEC, se aprovada, será derrubada pelo STF, com base nos mesmos argumentos que já
extinguiram a exigibilidade do diploma.
A liberdade de expressão e de informação e o livre exercício
profissional são cláusulas pétreas da Constituição, que não podem ser mudadas
com emendas (art. 60).
Mas entendo que a PEC seja uma forma de manter a expectativa em torno
da preservanção desse grande negócio que se tornou o ensino de jornalismo no
Brasil.
Como cidadão e como jornalista, lutarei com todas as
forças contra qualquer tentativa de restringir direitos fundamentais dos
cidadãos.
Liberdade de informar é poder exercer o jornalismo em todas as suas
dimensões, inclusive dentro das redações e profissionalmente. E o dom de comunicar é um patrimônio antigo
de toda a humanidade, que não pode ser apropriado por um grupo específico, seja
em nome do que for.
Quero encerrar lembrando a Declaração Universal dos Direitos Humanos, da
qual o Brasil é signatário.
Artigo XIX
Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este
direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de
procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer
meios e independentemente de fronteiras.
Sem mais,
José Carlos Fineis
Enviadas:
Sexta-feira, 11 de Novembro
de 2011 15:36:11 Assunto: PEc do Diploma será Votada dia 16/11
PEC do
diploma será votada no Senado na próxima quarta-feira Está na pauta de votação
do Senado do próximo dia 16, quarta-feira, a Proposta de Emenda Constitucional
(PEC) 33/09, que restabelece a exigência do diploma para o exercício da
profissão de jornalista. A expectativa é de que a medida seja aprovada,
restabelecendo à categoria um direito a ela inerente. A profissão, vale lembrar,
não foi desregulamentada, mas o diploma era um instrumento necessário para
assegurar não apenas prerrogativas, mas a expectativa da sociedade de ser bem
informada. Várias ações
encampadas por Sindicatos estão programadas, entre elas vigílias e manifestações
de apoio à Frente Parlamentar em Defesa do Diploma. Depois do Senado, a PEC
segue para a Câmara, com boas chances de ser apreciada e aprovada ainda este
ano.
31 de ago. de 2011
Release com foto: a praga das caixas de correio. Uma dica para as assessorias
Por José Carlos Fineis
Quero dedicar esta postagem a um assunto prosaico, corriqueiro demais, porém importantíssimo, pois diz respeito ao tempo que gastamos para fazer nosso serviço diariamente e à dificuldade que temos para gerenciar tudo o que recebemos.
Acabo de limpar minha caixa de e-mails, que estava novamente lotada. O maior e-mail, enviado pela assessoria de comunicação de uma Prefeitura da região, tinha diversas fotos que somavam 27 megas. Diversos outros estavam na casa dos 5, 6 ou mais de 10 megas.
Com tantas mensagens pesadas chegando diariamente, o pessoal das redações é obrigado a perder um tempo precioso limpando suas caixas de entrada. Tempo que poderia ser melhor usado, por exemplo, na leitura das mensagens.
Tenho uma sugestão às assessorias de imprensa (que, aliás, eu já praticava nos meus tempos de assessor). Em vez de mandar as fotos atachadas no e-mail, por que não colocá-las num site da internet (que pode ser o site da própria assessoria) e enviar para as redações apenas os links para baixá-las?
Outra opção é enviar um oferecimento de fotos, mais ou menos assim: "Atenção, amigos: quem precisar de fotos pode entrar em contato pelo e-mail tal ou pelo telefone tal, e nós as enviaremos."
A opção do link é mais viável, pois os interessados podem baixar quantas fotos quiserem, sem depender de telefonar para alguém. Mas a segunda opção também é interessante, principalmente quando se quer dar ao jornalista a oportunidade de pedir uma foto exclusiva, para uma capa de caderno, por exemplo.
Considerando que cada mensagem de texto, mesmo as formatadas com algum cuidado estético, não têm mais do que 30 Kilobytes (30 K), e que 1 Megabyte (MB) tem 1.024 K, uma mensagem de 27 MB equivale a 921,6 mensagens de 30 K.
Como se diz, fica a dica.
(Quem quiser pode refazer a conta e, se estiver errada, por favor, me corrija. Mas sem fotos, por favor!)
* * * * *
17 de jul. de 2011
The fool on the hill
Compartilho aqui alguns pensamentos sobre os assuntos que fazem parte do meu cotidiano, e sobre os quais gosto de refletir do alto da minha colina no Twitter. Se quiser, pode ouvir a música enquanto lê.
Arte
Não entendo muito de arte, mas acho difícil acreditar que uma criação é autêntica quando não existe o estranhamento, a imprevisibilidade.
A arte imita a vida, mas a vida que não tem compromisso com beleza e mensagem sempre é mais criativa que a arte.
A arte é sincera (e sublime) ou mentirosa (e ridícula). Simples assim!
Atitude
A vestimenta é muito importante. O papa põe terno e gravata: a Igreja acaba em 100 anos.
O homem romântico faz um poema para a amada. O homem prático pega o poema do outro e o oferece para a mulher que ama, no maior descaramento.
Você é um democrata de verdade quando defende a liberdade do outro. Defender a própria liberdade, qualquer idiota faz isso.
Existem dois tipos de brasileiros: os que acham bom demais ter nascido no Brasil e os que se acham bons demais pra ter nascido no Brasil.
Bebida
Beber é uma forma de ver os problemas por outro prisma: o dos bêbados.
Se Sandy vende cerveja, não sei. Mas estão marcando bobeira em não ir atrás da Ruby do Berlusconi. Essa sim, vende até pente pra careca.
Cerveja é um negócio que nos ajuda a suportar a programação da TV. TV é um negócio que nos convence a comprar mais cerveja.
Cinema
Já viu filme em 3Z? É aquele que começa e ZZZ...
É verdade, gente! Em Portugal, o filme "Homens brancos não sabem enterrar" (sobre basquete) foi batizado de "Branco não sabe meter".
Durante um bom tempo, no Brasil, fazer cinema não passou de um pretexto pra pegar mulher.
Coisas que não gosto
Dizer que o futebol é o ópio do povo é uma tremenda injustiça para com o ópio, que serve para tantas coisas.
Com tantos debates esportivos e discussões de barzinho, o futebol é, de longe, o esporte mais oral do mundo.
Torcedor é uma espécie muito especial de atleta, que pratica o futebol com os olhos e com a garganta.
Comentaristas de futebol pensam o jogo quase tão bem quanto os próprios jogadores pensariam se tivessem duas horas pra refletir sobre cada jogada.
Dicas para escrever bem
Frases curtas desenrolam o texto, economizam emendas ("ques", "ondes", "cujos", etc.) e comunicam melhor. Ponto final: adote essa ideia.
Técnica para melhorar texto ruim. Imprima em corpo 14, espaço 1,5, só na frente. Junte tudo, amasse, jogue fora. Comece um arquivo novo.
O pior castigo para um redator vagabundo é ler o próprio texto.
Quem vende jornal é o telemarketing, o dono da banca. Faça sua matéria o melhor possível, mas deixe essa preocupação para eles.
Fazer textos saborosos com assuntos saborosos, e textos áridos com assuntos áridos. Que mérito há nisso?
Nenhum texto é bom antes de ter sido revisado cinco vezes.
Internet
Se fazer sexo fosse tão complicado quanto navegar em certos sites, o mundo não teria quase 7 bilhões de habitantes.
Ainda ouviremos falar sobre alguém que entrou no Facebook bêbado e acordou casado com um(a) desconhecido(a), numa cama de hotel.
Se o elevador é lento, ninguém questiona. Se o carro para, ninguém duvida. Mas quando o assunto é site, sempre tem uma desculpa para não funcionar direito.
Jornalismo
Certeza é aquilo que temos antes de conhecer um assunto.
A imprensa primeiro ensina ao público que qualquer futilidade é jornalismo, depois se surpreende ao ser trocada por entretenimento.
O jornalista deve saber que certas personalidades são como plutônio enriquecido ou cocô de gato. É melhor não mexer com elas.
Como se chamava o jornalista no tempo de Cristo? Escriba? Apóstolo? Talvez sejamos ainda um pouco dos dois.
Informar é uma atividade humana muito anterior ao Jornalismo. O conflito entre Jornalismo e redes sociais é crise corporativa do primeiro.
Um órgão de informação se torna decadente quando deixa de dizer o que as pessoas precisam ouvir, e passa a dizer o que elas querem ouvir.
Existe uma forma relapsa de procurar que, na verdade, não passa de uma forma de esconder. Em jornalismo, isso é desastroso.
A verdade não é propriamente uma coxinha da Real, mas devemos engoli-la todos os dias. E não é um osso do ofício. É o próprio ofício.
Gutemberg inventou a imprensa às 15h05. Às 15h35, chegava à sua porta o primeiro jabá.
Literatura
O bom escritor a gente conhece também pelo que não escreve.
A atitude ideal de um escritor é a de quem está sozinho em casa, coça a barriga com o garfo, ri em voz alta dos próprios pensamentos.
É uma guerra sutil a que se trava no campo das palavras, com traições, emboscadas, covardias, mortos e feridos: como na guerra real.
Às vezes é preciso dar um salto tríplice mortal, mesmo com o risco de quebrar a cara. No texto, bem entendido: não sou ginasta.
Andar na corda bamba com os pés não é nada. Quero ver fazer isso com palavras, como eu.
Música
No dia em que inventarem coisa pior que karaokê, a Al-Qaeda vai roubar e usar pra fazer chantagem com o Ocidente.
Remix, para muitos DJs, nada mais é do que trucidar várias músicas bonitas para fazer uma só, entediante e feia.
Saudade dos compactos simples e duplos. A capa impressa. O cheiro do vinil e da tinta. A música era objeto: podia-se pegar, olhar, cheirar.
Dançar tango é a maneira mais sofisticada de fazer sexo que o ser humano foi capaz de inventar.
Perfeito é o silêncio. Música é a beleza possível na imperfeição.
Televisão
TV a cabo é assim: para ver algumas porcarias, compre um pacote econômico. Se quiser mais opções de porcarias, compre um pacote maior.
Logo inventarão um computador que pensa pelo usuário, programa conteúdos, dispensa análises e opções. Vem aí o PC do futuro: a televisão.
Alô você, locutor de comercial de TV em Sorocaba. Você não gritou o bastante. Tem de gritar bem alto pra me convencer a comprar!
A Rede Globo consegue ser babaca, antiquada e sem sabor até quando fala de amor e sexo. É uma tiazona tentando ser moderninha.
"Primeiro você escolhe o cara, depois você se apaixona", diz a mais velha à jovenzinha. Novela da Globo dando aula de putaria.
É possível avaliar uma produção de TV em segundos, pela iluminação. Quem não se preocupa com a luz, que é o básico, não faz nada direito.
Enquanto isso, no boteco: "Pensa que aqui é a Globonews pra ficar aí sentado e falar qualquer bobagem que vem à cabeça?"
Twitter
Nome: Twitter. Função: impedir que milhões de frases idiotas se percam para todo o sempre.
Se Che Guevara fosse tuiteiro, teria muitos milhões de seguidores. Mas pra morrer com ele, na selva, a mesma dúzia de gatos pingados.
O Twitter é uma bandeja de pedregulhos. A gente os remove procurando uma pérola, até que percebe como pode ser belo um pedregulho.
Ter um milhão de seguidores só quer dizer uma coisa: que 73 milhões não quiseram segui-lo.
Estranho esse esforço para ter seguidores. Para que alguém quer seguidores, se não for pra vender algo ou começar uma revolução?
Kaká ultrapassa Huck e é brasileiro número um do Twitter. Já em babaquice, os dois continuam empatados.
Perdeu-se follower. Na última vez que foi visto, vestia calça jeans e camiseta. Quem encontrar, favor devolvê-lo neste perfil.
Consertar o mundo no Twitter é fácil. Quero ver consertar o vaso sanitário.
Nem tudo o que escrevem no Twitter é indireta pra gente. Certo, cabeçudo?
Vida
No computador do Céu não existe Ctrl+C. Por isso, cada ser humano é único!
Tudo bem que alguém faça sempre as escolhas mais sofridas, desde que sofra sozinho e não arraste quem está por perto para o seu sofrimento!
O mais bonito nos casais que se amam é que eles, teoricamente, não precisariam ser nada um pro outro, mas são tudo.
A vida deve ter um sentido, sempre. E quando não o encontramos, devemos entender que o sentido da vida é encontrar um sentido para a vida.
* * * * *
24 de mai. de 2011
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É fundamental (re)descobrir o prazer intelectual de produzir bons textos
Por José Carlos Fineis
Escrever textos jornalísticos não é coisa fácil. A redação jornalística exige concentração, disposição para pensar em profundidade, clareza de raciocínio, fórmulas gramaticais precisas e nenhuma preguiça em transformar os dados apurados numa síntese que permita ao leitor, sem muito esforço, adquirir as informações de forma fluente, rápida e agradável.
Por isso, não posso acreditar na seriedade do repórter que escreve sem cuidados mínimos com o texto e passa adiante sua produção diária sem uma boa revisão. Erros de digitação, vocabulário raso, frases sem sentido, repetições, omissões e excesso de aspas geralmente denotam algo mais grave do que o simples desleixo: são sinal de que o redator não gosta de escrever. Escreve como quem quer se livrar de um fardo, de uma batata quente.
O jornalista que não tem tesão pelo texto não é diferente do médico negligente ou do motorista irresponsável. E nem o fato de que o público, em geral, é pouco crítico, ou a certeza de que muitos donos de veículos de comunicação se preocupam mais com o faturamento do que com a qualidade de suas publicações devem afastar o jornalista de uma busca pessoal e incessante pelo texto claro, conciso, correto e criativo.
Há sempre boas desculpas para escrever "de qualquer jeito", e a principal delas é dada pelas próprias empresas jornalísticas, que cobram seus funcionários para que deem conta de tudo sem fazer horas extras. O profissional medíocre fará desta e de outras dificuldades uma justificativa eterna para não escrever bem. O profissional consciente, porém, buscará se aperfeiçoar independentemente das condições impostas, como o atleta que treina todos os dias - no frio, na chuva ou no sol, e por vezes com dor - para superar a performance do dia anterior.
Tenho visto, em jornais, revistas e na internet, muitas reportagens "técnicas", escritas com evidente desinteresse. Os textos se alongam muito além do necessário (afinal, é mais difícil escrever pouco do que muito), repetem informações, deixam lacunas sem resposta, incluem muitas frases entre aspas (frases bobas, que nada mais são do que uma forma de retransmitir as informações em seu estado bruto, dispensando o trabalho de elaboração do texto), enfim, não passam de relatórios enfadonhos, que nos deixam com pena de quem as precise ler.
Quando o repórter não se dá ao trabalho de sintetizar, hierarquizar e relacionar informações, ele nada mais faz que transferir para o leitor o trabalho que seria seu. Fala-se muito em concorrência dos meios eletrônicos, mas acredito que é a ausência de bons textos - textos capazes de surpreender e encantar os leitores - o que mais compromete parte da imprensa, que se apegou ao modelo "industrial" e esqueceu que ler não precisa, necessariamente, ser uma atividade burocrática e maçante.
É fundamental, para todos os que levam o jornalismo a sério, (re)descobrir a arte, a alegria e o prazer intelectual que existe em produzir bons textos. Todos sabemos que o salário é pequeno e o tempo, escasso diante de tanto trabalho, mas um jornalista que se considere profissional não deve jamais entregar sua produção diária sem antes se certificar de que seu texto oferece uma síntese bem organizada e compreensível do assunto enfocado, escrita com correção e livre de redundâncias ou declarações vazias.
Todos os dias, talentos promissores do jornalismo se tornam medíocres porque têm preguiça de dispensar ao texto o carinho necessário. Não seja mais um.
* * * * *
5 de fev. de 2011
Para matar a saudade: a Redação do Cruzeiro do Sul por volta de 1982
Por José Carlos Fineis
Já que a correria dos últimos dias não me tem permitido concluir um artigo novo para este espaço, tive a ideia de compartilhar com os leitores uma foto que, para mim, tem um significado muito especial.
Essa aí em cima é a redação do jornal Cruzeiro do Sul em 1982 (ou talvez um pouco mais tarde). É a redação antiga, já no Alto da Boa Vista (onde o jornal funciona desde 1980), instalada numa sala ampla do prédio de tijolinhos aparentes que depois foi ocupado pela diretoria da Fundação Ubaldino do Amaral, quando a redação nova (feita especialmente para ser redação, no barracão industrial) ficou pronta.
As pessoas da foto ocupam um lugar muito especial no meu coração, pois foi com elas que dei os primeiros (e titubeantes) passos nesta profissão maravilhosa, e aprendi muito do que me valeu pela vida inteira.
Em pé: Sérgio Vinícius da Rosa (repórter que mais tarde se tornou um pioneiro do colunismo social na televisão sorocabana), Rita (arquivista que sonhava ser atriz, largou o jornal e foi para São Paulo, onde trabalhou na TV Cultura), eu (com lentes de contato e um cabelo bichogrilo), Anivaldo José Pinto, o Mussum (fotógrafo lendário de Sorocaba, o melhor que conheci, autor de verdadeiras obras-primas em preto e branco, que depois foi trabalhar na Polícia Técnica), Celso Ribeiro (ele mesmo, Ribas o Marvadão, autor da coluna Sapo N'Água), Adalberto Vieira, o Pardal (um bom amigo e excelente profissional, com quem tenho o prazer de jantar todas as noites), Ivone Savioli (arquivista durante longo tempo no Cruzeiro, que depois foi trabalhar na Fundec), Roque Pires do Amaral, o Roquinho (amigo de longa data, foi meu padrinho na profissão por me apresentar na Redação e me ensinou o beabá da reportagem), Maria Cláudia Miguel, a Cacau (amigona, grande texto e excelente musicista de orquestras sinfônicas, com quem ainda mantenho contato), Homero Moreira Querido Filho (grande chefe de reportagem e pauteiro, o Homero foi quem me incentivou sempre para transformar pautas sobre ruas esburacadas em boas matérias), Marta Lima Dias da Silva, a Martinha (outra grande pessoa, hoje sócia da agência NúcleoTCM, onde trabalha com o marido, o também lendário Mané Motta), J. César (excelente figura, que na época respondia pela seção de Esportes e hoje é dono da Folha de Votorantim), Paulo Fernando Coelho Fleury, o Fleuryzinho (de todos, posso dizer, o que se tornou meu maior amigo, e que infelizmente não está mais neste plano). Sentados: Maria Iria Colturato (era a melhor repórter do jornal, mas era também advogada e deixou o jornalismo para advogar), fotógrafo que ficou pouco tempo no jornal e que não lembro mais o nome (se não me engano era Paulo), Hélia Neves Fernandes (a grande e eterna colunista de Sorocaba, e também gente finíssima) e José Roberto Pinto (fotógrafo, irmão de Anivaldo e Adival, e que depois foi fotógrafo da Câmara).
Em primeiro plano, as Lexikon 90 em que aprendi a datilografar e a fazer reportagem.
Agora, uma dúvida: de quem seria a foto? Por eliminação, creio que é do Adival B. Pinto, mas posso estar enganado.
Bem, por enquanto é isso. No próximo post, prometo mais reflexão e menos recordação.
* * * * *
22 de jan. de 2011
O leitor tem direito de saber quem exatamente sãoe o que fazem as pessoas que escrevem no jornal
Por José Carlos Fineis
Conheço dois articulistas de jornal (curiosamente, um de esquerda e outro bem de direita) que têm o péssimo hábito de esconder do leitor o que eles realmente são. Eles se apresentam ao final de seus artigos como jornalistas e mestres disso e daquilo, mas não informam o essencial: seu envolvimento pessoal, na condição de militantes, com organizações que representam ideologias e interesses políticos e/ou sociais muito pronunciados.
Ambos fazem de seus artigos espaços para discorrer sobre questões de fundo ideológico, o que torna a omissão do envolvimento pessoal ainda mais grave. Um é ligado a um partido; outro, a uma instituição religiosa ultraconservadora. O primeiro usa sua coluna com frequência para elogiar sua agremiação e criticar o partido adversário; o outro, aborda com um verniz pseudoético questões morais e sociais da religião a que pertence.
Sempre leio o crédito dos artigos, na esperança de que os autores (ou os jornais em que escrevem) tenham resolvido finalmente respeitar o leitor, e informar sobre o envolvimento pessoal, partidário e sectário desses dois. Isso, infelizmente, nunca aconteceu, seja porque eles querem que seja assim, seja porque os jornais, aparentemente, não se sentem mal em contribuir com a farsa. Na ausência dessa informação, perdi todo o interesse por seus artigos, pois creio que já nascem contaminados pela intenção de enganar o leitor.
O que somos e o que fazemos são coisas que devemos informar sempre, e mais ainda quando o que somos e fazemos tem relação direta com nossa forma de ver o assunto que analisamos. O envolvimento pessoal é visto, acertadamente, como elemento comprometedor da imparcialidade e da objetividade. Com propriedade, o público classifica as opiniões conforme a origem e lhes atribui pesos distintos: as que vêm de dentro das instituições, emitidas por militantes, sempre merecem menos confiança que aquelas emitidas por analistas independentes.
Os senhores a que me refiro se apresentam apenas como jornalistas e professores, habilitando-se dessa forma a receber do leitor a máxima confiança que tanto a primeira quanto a segunda profissão costumam inspirar. Porém, aberto o caminho, emitem opiniões que não são diferentes das opiniões dos militantes mais empedernidos, e que, da forma como são publicadas, têm uma chance grande de ser lidas e assimiladas como opiniões formuladas com autonomia, o que está longe de acontecer.
Não há dúvida de que ambos são jornalistas, como se apresentam. Mas não agem com ética jornalística em relação aos leitores, pois fazem do Jornalismo apenas um elemento de convencimento para projetar as crenças com que se envolveram. É uma pena que os veículos aceitem esse tipo de manobra e não se esforcem por esclarecer quem é quem. Não há problema nenhum em ser engajado e emitir opiniões, mas o leitor tem direito de saber quais interesses - pessoais, principalmente - influenciam na formação dessa opinião. Nesse jogo de falsas aparências, em que os motivos mais evidentes são ocultados, perde a sociedade, perde a informação.