Por José Carlos Fineis
Um belo dia, o repórter entra na minha sala:
- Xi, Zé. Essa pauta que você passou aí, não sei não, hem? Eu fui até o local mas não achei ninguém que falasse. Também deve ser difícil encontrar aquilo que você falou, porque esse pessoal é esperto, não fica assim, dando bobeira...
- Mas você perguntou?
- Perguntei.
- E o que eles disseram?
- Ah, o pessoal não é muito de falar, né? Também eu não tinha tempo...
- Mas deve ter alguém que já viu isso. Tem bastante gente fazendo. Se você ficar por ali, talvez nem precise alguém falar, talvez você mesmo veja.
- Xi, aí é que vai ser difícil mesmo.
- Mas prometa que você vai tentar.
- Ah, tudo bem, mas essa pauta aí, não sei não...
* * *
Passados cinco dias, vou perguntar pra ele se conseguiu alguma coisa.
- Eu tava com outras pautas, mas, se você quiser, eu volto lá. Agora, tem o seguinte. Tem uma menina na redação que diz que não é bem assim. Porque... Qual seria a vantagem de quem faz aquilo? A pessoa perderia um tempão fazendo o que você falou, pra ganhar o quê?
- Bom, eu digo que tem. Você quer que eu passe a pauta para outra pessoa?
- Ah, isso é que não. A pauta tá comigo. O problema é que eu tô tentando, mas tá difícil de fazer.
- Então você vai voltar lá?
- Esta semana eu tô fazendo uma reportagem especial pra domingo, mas assim que eu terminar eu volto lá.
- E fala com bastante gente?
- Falo, mas já adianto que eles não vão querer se identificar.
- Por que não?
- Ah, sei lá. Aquele pessoal não é de falar, e, quando fala, não quer dar o nome.
- Bom, tente conversar, gravar a entrevista. Talvez possamos usar em off mesmo. Quem sabe você encontra alguém que faz o negócio?
Ele ri, enigmaticamente:
- Pois é. Quem sabe?
* * *
Um mês depois, ele passa ligeiro pela minha porta, e eu o chamo.
- Você pode vir aqui um pouco?
- É que eu tô indo pra uma entrevista...
- É coisa rápida. Você viu o concorrente?
Ele baixa os olhos.
- Vi.
- Viu a reportagem que eles fizeram sobre aquele caso?
- Vi, mas...
- Então. O repórter deles conseguiu três fontes que viram a coisa, e até uma que já fez aquilo.
- É? Eu não li tudo.
- É sim. E as fontes se identificaram, precisa ver que beleza!
- Puxa, que sorte a dele, hem?
E, recuperando o sorriso:
- Viu, Zé. Eu tô saindo pra um compromisso agora, mas quando tiver um tempinho, queria que você me desse um palpite sobre a reportagem para o prêmio de jornalismo. Eu tenho a dos velhinhos e a do coral de crianças. Qual você acha que eu devo inscrever?
* * *
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